mulheres da minha família
Minha bisa é minha vó, que é minha mãe, minha irmã, minha neta, minha filha. Nós somos da terra, viemos das matas e somos família. 
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É delas que eu venho. A Matriarca aparece nas primeiras fotos. Minha bisavó era conhecida por separar todas as brigas de todos os primos, tios, irmãos, enfim, todos os parentes da família. Se eles estavam prestes a brigarem feio dentro do bar, ela aparecia e fazia tudo ficar nos eixos. Ela deve ter mais de 100 anos, mas consta 95 no papel. Antes de visitá-la, descobri que é minha madrinha - só depois de 19 anos fui saber - e fez total sentido com tudo que acessei sobre nossos ancestrais nos rituais que ando fazendo e que me ensinam sobre quem sou. Ela me batizou em casa, com arruda e vela branca, assim como fazíamos quando tínhamos outros nomes e vivíamos outras vidas. Hoje ela não se lembra de mim, mas ela lembra da minha história. Bisa conta sobre a nossa origem, conta sobre os primeiros homens brancos que pegaram uma mulher da minha família à força. Depois vieram outros. Meu pai disse que éramos selvagens, mas selvagem não é um adjetivo nosso. Nós viemos das terras do Brasil, quem me conhece entende o porquê esse chão é muito importante na minha história. Foi nele que aprendi a olhar para quem veio antes de mim, e a partir dele entendi quem sou. Esse processo não tem fim. 
Bisa hoje é cuidada por sua filha, minha vó, e a família de seu neto, meu pai. As fotos em que as duas aparecem, tem um peso enorme que transmite a relação que elas vivem hoje morando juntas. Esse peso não cabe em palavras ou pixel, mas se você for sensível o suficiente, vai entender quando olhar em seus olhos.
“Eu to puro uma carioca!” foi a frase que minha vó disse quando se viu nas fotos, ri pensando se algum dia entenderia o que era parecer uma carioca. Voltando pra casa depois de visitá-la, fiquei pensando se fazia tempo que ela não se olhava. Quanto tempo em frente ao espelho olhando para outros detalhes que não ela mesma. Sempre que chego em São Paulo descubro ela cada vez mais linda, nunca tinha notado que minha vó é linda. Há uns três anos eu enxerguei ela como mulher, me doeu muito porque me coloquei no lugar dela, porque eu sou ela e nós somos todas que vieram antes de nós. Carregamos conosco as dores e as lembranças que são passadas de uma em uma. Nessa viagem descobri que minha vó reza por mim para três mulheres. Essas três mulheres, Aparecida (tá comigo até no nome), Fátima e Teresa me abençoam para que eu não caia nos caminhos errados. Vó, sabia que mamãe Oxum abençoa nós duas também? Acho que você sabia quando me deu a toalha mais amarela do mundo de presente. Bença minha vó, estou nos teus rezos e você está nos meus, por mais que eles sejam diferentes, nos fortalecem da mesma forma. Essa é só uma parte das mulheres da minha família, espero em breve ter todas elas nessa página. 
Meu desejo hoje é que nenhuma mulher da nossa linhagem sofra de novo por um relacionamento que não escolheu, por um filho que não quis. Essa história não é só minha, veio antes da minha vó e da minha bisa, que é minha madrinha, minha mãe, minha irmã, minha neta, minha filha. Nós somos da terra, viemos das matas e somos família.