Eu
"Ser menino ou menina tem a ver com o que as pessoas sentem. Eu me sinto um menino, sou um menino." (Noah, 8 anos)
Eu andava sem camisa e corria com os meninos da rua; estratégico e competitivo, bolava planos para me sair bem nas brincadeiras com as outras crianças... E essas eram algumas formas que eu tinha de me expressar.
Eu já havia percebido que era um trans homem desde de muito pequeno, mas o meio em que vivi essa parte da minha vida, não soube compreender essas características da minha personalidade o que gerou frustração, afastamento e sofrimento. Vivi uma fase da minha vida me sentindo incompleto e não entendendo uma parte de mim que ficou anestesiada no meu inconsciente.
Mas a vida me deu ferramentas para que essa parte de mim florescesse como as plantas na primavera depois de um inverno rigoroso. Tive a sorte (digo sorte, mesmo) de estar próximo de pessoas que me respeitam e tentam da sua forma entender minha alma masculina. E as pessoas do meu passado que não sabiam me dar esse olhar, hoje estão procurando sua forma de pensar as questões de gênero e mudar.
É doloroso pensar que muitas pessoas trans não tem a mesma "sorte" que tenho e me sinto triste quando vejo notícias de violência contra os meus "iguais"; quando sei da existência de crianças que são forçadas a usarem cores ou a se expressarem de forma que não as representa; quando ouço lideres políticos invisibilizando as diferentes formas de expressar o gênero (que é uma parte da personalidade e não do corpo). Enfim, isso só me faz pensar que dentro do meio em que vivo, onde o direito da auto descoberta está sendo respeitado, devo buscar meios de dar visibilidade as questões de gênero.
- Noah R. Souza